sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Walmart contribuindo na prevenção de doenças crônicas relacionadas à gordura, sal e açúcar

Walmart oferecerá mais alimentos com menos gordura, sais e açúcares


The New York Times

Sheryl Gay Stolberg
Washington (EUA)

O Walmart, a maior empresa de varejo americana, anunciará na quinta-feira um plano de cinco anos para redução de sais, gorduras e açúcares não saudáveis em milhares de seus alimentos embalados, e reduzir os preços de frutas, verduras e legumes.

A iniciativa nasceu das discussões da empresa com a primeira-dama Michelle Obama, que estará presente no anúncio em Washington e que tornou os hábitos alimentares saudáveis e a redução da obesidade infantil na peça central de sua agenda. Assessores disseram que é a primeira-vez que Michelle Obama dá seu apoio ao trabalho de uma empresa individual.

O plano, semelhante aos esforços de outras empresas e às iniciativas de saúde pública da prefeitura de Nova York, estabelece metas específicas para redução de sódio, gorduras trans e açúcares adicionados a uma variedade de alimentos –incluin do arroz, sopas, feijão enlatado, temperos de salada e salgadinhos como batatas fritas– que levam a marca própria da empresa, Great Value.

Em entrevistas antecipando o anúncio, o Walmart e funcionários da Casa Branca disseram que a empresa também promete pressionar suas maiores fornecedoras de alimentos, como a Kraft, a seguir seu exemplo. O Walmart não revela quanto de suas vendas vem de sua marca própria. Mas a Kraft diz que aproximadamente 16% de suas vendas globais são feitas pelo Walmart.

Além disso, o Walmart buscará eliminar qualquer custo adicional para os clientes para alimentos saudáveis feitos com grãos integrais, disse Leslie Dach, vice-presidente executivo para assuntos corporativos do Walmart. Ao reduzir os preços de alimentos frescos como frutas, verduras e legumes, o Walmart diz que reduzirá seus próprios lucros, na esperança de compensá-los em volume de vendas.

“Não se trata de pedir aos produtores rurais para que aceitem menos pelos seus produtos”, ele disse.

As mudanças serão introduzidas lentamente, ao longo de um período de cinco anos, para dar tempo à empresa para superar obstáculos técnicos e dar aos consumidores tempo para se adaptarem ao novo sabor dos alimentos, disse Dach.

“Não adianta nada ter alimentos saudáveis se as pessoas não os comerem.”

O Walmart não é a primeira empresa a adotar medidas como essas; a ConAgra Foods, por exemplo, prometeu reduzir o conteúdo de sódio em seus alimentos em 20% até 2015.

Mas como o Walmart vende mais gêneros alimentícios do que qualquer outra empresa no país, e por ser uma grande compradora de alimentos produzidos pelos fornecedores nacionais, os especialistas em nutrição dizem que as mudanças podem ter um grande impacto na acessibilidade a alimentos saudáveis e na saúde das famílias e crianças americanas.

Alguns dizem que a emp resa tem quase tanto poder quanto os reguladores federais para moldar o mercado.

“Várias empresas disseram que promoverão reduções voluntárias de sódio ao longo dos próximos anos, e várias empresas disseram que tentarão retirar a gordura trans de seus alimentos”, disse Michael Jacobson, diretor executivo do Centro para Ciência no Interesse Público. “Mas o Walmart está em uma posição quase semelhante à da Food and Drug Administration (FDA, órgão regulador de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos). Eu acho que isso realmente pressiona a indústria alimentícia na direção certa.”

Mas a pressão do Walmart tem limites. As reduções propostas de açúcar da empresa são “muito menos agressivas” do que poderiam ser, disse Jacobson, notando que o Walmart não está propondo lidar com o problema dos açúcares adicionados aos refrigerantes, que os especialistas consideram os maiores contribuidores para a obesidade infan til. E ele disse que seria “bom se o prazo do Walmart fosse menor” do que cinco anos.

O Walmart está planejando a iniciativa há mais de um ano; o esforço estava em seus estágios iniciais quando Michelle Obama ingressou. A aparição da primeira-dama com Dach e outros executivos do Walmart quando fizerem o anúncio em um centro comunitário no bairro de Anacostia, em Washington, na manhã de quinta-feira, é fora do comum e um esforço proeminente por parte do governo para promover mais alimentos saudáveis.

“Nós não estamos apenas nos alinhando com uma empresa; nós estamos nos alinhando com pessoas que estão assumindo a liderança na condução deste país para uma posição mais saudável”, disse Sam Kass, o chef da Casa Branca que também serve com principal assessor de Michelle Obama em assuntos de nutrição.

“Não há receios em relação a isso”, disse Kass. “As únicas dúvidas que temos é se consideramos e ste um passo significativo na direção certa, se achamos que dispomos de um método para monitorar o progresso e se achamos que isto terá o impacto que desejamos.”

Ao longo do ano passado, Kass e outros assessores da primeira-dama passaram inúmeras horas em reuniões com executivos de empresa; tanto Kass quanto Dach disseram que Michelle Obama pressionou a empresa a se responsabilizar por emitir relatórios públicos de progresso. A Parceria por uma América Mais Saudável, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com a primeira-dama em sua iniciativa Vamos nos Mover, para redução da obesidade infantil, monitorará o progresso da empresa.

As mudanças não ocorrerão da noite para o dia. O Walmart está prometendo reduzir o sódio em 25%, eliminar as gorduras trans adicionadas industrialmente e reduzir os açúcares adicionados em 10% até 2015. Seus outros planos são menos específicos. Além de propor a redução dos preços dos alimentos saudáveis, o Walmart está planejando desenvolver um critério, e no final um selo, que será aplicado aos alimentos realmente saudáveis, de acordo com a medição de seu conteúdo de sódio, gordura e açúcar.

A empresa diz que também tratará do problema dos “desertos alimentares” –a escassez de lojas que vendem alimentos frescos em áreas rurais e urbanas mal servidas como Anacostia– por meio da construção de mais lojas. E aumentará as contribuições de caridade para programas de nutrição.

Vários estudos mostram que pessoas de baixa renda, especialmente aquelas que recebem cupons de alimentos, enfrentam desafios especiais de dieta, porque a alimentação de modo saudável custa mais caro e alimentos saudáveis são mais difíceis de encontrar em seus bairros. James D. Weill, presidente do Centro para Ação e Pesquisa Alimentar, uma organização que tem pressionado o Walmart a ajudar a lidar com este problema, disse que a empresa parece ter reconhecido “quanta fome e insegurança alimentar há no país”.

Dach disse que os preços mais baixos e reformulações dos alimentos foram motivados por exigências dos próprios clientes do Walmart. Ele disse que a empresa acredita que, se for bem-sucedida, as reduções de preço economizariam aos americanos que compram no Walmart aproximadamente US$ 1 bilhão por ano em frutas, verduras e legumes frescos por ano.

“Nossos clientes sempre nos disseram: ‘Nós não entendemos porque o macarrão com queijo de trigo integral custa mais do que o macarrão com queijo comum’”, disse Dach, acrescentando que “nós sempre dissemos que não achamos que os clientes do Walmart precisam ter que escolher entre um produto mais saudável para eles e aquele que podem comprar”.

Jacobson, do Centro para Ciência no Interesse Público, disse que a redução do sódio é a mais difícil das mudanças nos alimentos. O sódio está em todas as categorias de alimentos e é mais difícil de substituir do que o óleo parcialmente hidrogenado que compõe as gorduras trans, ou do que os açúcares, por que estes são facilmente substituíveis por outros óleos e açúcares. Mas o sódio, que contribui para a hipertensão e aumenta o risco de doença cardíaca, deve apenas ser reduzido, o que pode alterar enormemente o sabor.

Dach disse que a empresa ainda precisa atingir suas metas de reformulação, e descreveu as metas como sendo tanto uma aspiração quanto realistas. “Nós achamos que se trata de uma meta realista, mas é uma aspiração no sentido de que não podemos dizer hoje como tudo será feito”, ele disse.

William Neuman, em Nova York (EUA), contribuiu com reportagem.
Tradução: George El Khouri Andolfato
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2011/01/21/walmart-oferecera-mais-alimentos-com-menos-gordura-sais-e-acucares.jhtm

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