terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lei do Ato Médico: indicada ao Nobel da Paz 2005 opina

Não há mistério: desde sempre, o ato médico é o fazer médico

Fatima Oliveira *
Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Quando aparecia alguém lá em casa para filar consulta, meu avô Braulino bradava: "Não se faz médico a facão. Eu sei!" Esbravejava: "Acham que doutora vive de brisa". Se pediam remédio, ele irava: "Oxente, e aqui virou farmácia?". A lembrança é a propósito da canseira inútil das acirradas e passionais discussões sobre a "lei do ato médico".
De tão surreais perderam o prumo e beiram à insensatez. As medicinas, como Minas, são muitas, mas nunca encontrei quem não saiba o que faz um médico, desses que não são feitos a facão.

O senso comum jamais confunde o ato médico, pois as fronteiras da medicina - alcances e limites -, além de nitidez, gozam de reconhecimento público. À pergunta sobre o que acho do ato médico, mordo a língua e indago: "Quando você adoece e vai se consultar, quem procura?". A resposta é única: o médico. Arremato: "Para quê?", A resposta é sempre igual: "Pra dizer o que tenho e passar remédio". Quem sabe qual é o papel do médico, sabe o que é o ato médico!

A história da medicina é pródiga em comprovações de que a categoria médica - cada profissão origina uma categoria profissional e não uma classe, logo não há "classe médica", terminologia fora do escopo e arrogante - ergueu suas fronteiras na luta separatista entre medicina e religião e na apropriação de saberes de outras profissões, como as parteiras - história de lances indizíveis explicitadores da ojeriza que parte da categoria nutre pelas casas de parto, espaços para partos normais, que apoio. Há outras pelejas.

Leonard M. Martin, em "A Ética Diante do Paciente Terminal", é categórico: "No Ocidente, o surgimento da medicina científica como uma profissão e a separação crescente entre a religião e a medicina são fenômenos com consequências enormes. É um processo histórico complexo, marcado por tensões entre a medicina popular e a erudita, entre medicina de inspiração religiosa e a secularizada, entre medicina tecnológica e científica e uma mais humanística centrada no paciente individual".

Não é segredo, desde os primórdios da medicina científica, que o ato médico é aquele privativo do fazer médico; e que diagnóstico médico e prescrição médica são prerrogativas de quem se graduou em medicina, única profissão da saúde que habilita para formular hipóteses a partir de um conjunto de dados para chegar a uma linha de raciocínio definidora da propedêutica adequada ao diagnóstico e à prescrição.

Aventam que o ato médico desmonta a lógica do SUS e o trabalho em equipe! Como um modelo de assistência à saúde focado nas doenças, com vistas a diagnosticá-las e a tratá-las, prescinde do único profissional que diagnostica; prescreve, de medicamentos a procedimentos; interna e dá alta em hospitais; declara e emite atestado de óbito? A lógica do SUS é que não há SUS sem médico. Como um marco legal escrito da prática médica existente destruiria o trabalho em equipe multi, inter ou transdisciplinar, se o que as caracteriza é a riqueza que cada profissional aporta, através de saberes e habilidades técnicas e científicas específicas e diferenciadas?

A "lei do ato médico", como outras regulamentações de um campo profissional, impede, proíbe e criminaliza é a promiscuidade no agir profissional, configurada numa palavra que fala por si: charlatanismo. O respeito irrestrito à saúde e à vida humana não pode passar ao largo da área de competência científica, técnica e ética de cada profissão que compõe os recursos humanos do setor de saúde.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=2740&id_coluna=20

Integralidade da Atenção à Saúde: texto para reflexão

Texto adaptado por: Maria do Carmo Gomes Kell
Enfermeira Sanitarista
Consultora Técnica da Coordenação de Gestão da Atenção Básica
Departamento de Atenção Básica - MS

Fonte:
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Coordenação de Gestão da Atenção Básica


O processo de construção e implementação da integralidade, princípio constitucional talvez seja, nos dias de hoje, o maior desafio da saúde no Brasil.

Desde os anos 80 a integralidade em saúde vem sendo colocada como questão nas políticas governamentais, em programas de intervenção e em todo discurso do movimento sanitário. Primeiro, foi pensada em termos de uma articulação entre aparatos institucionais prestadores de serviços, como a integração entre os setores público e privado na produção dos cuidados de assistência médica, ou entre os sub-setores de saúde pública e de medicina previdenciária, no interior do próprio setor público de serviços. Depois, foi pensada como um problema de gerência dos serviços. De qualquer modo, a integralidade em saúde esteve
sempre explicitada como intenção e necessidade da ação pública, isto é, as intervenções que consolidariam o Sistema Único De Saúde Brasileiro, o SUS. E, neste plano, a ação pode ser pensada em duas esferas; a ação norteadora de “projetos técnico-sociais”; e a ação que os realiza em serviços, produzindo diretamente cuidados, desenhando as organizações compatíveis com o modelo assistencial de saúde antevisto como projeto técnico e, ao mesmo tempo, social.

A questão da integralidade representa, hoje, o maior desafio nas práticas em saúde, não como questão institucional ou política, já que integrar na esfera que contém a política pública e a esfera da ação pública, aquela que ocorre a prestação dos serviços, sendo o público um setor de produção social, não é exatamente algo novo, mas como desafio cultural, para romper com formas cristalizadas de se entenderem e realizarem ações técnicas e que conformam padrões de intervenção médica ou em saúde já tornados tradição. Por exemplo, já pertencem ao agir tradicional às ações especializadas, ações do conhecimento científico progressivamente cristalizado em formas especializadas de desempenho técnico e profissional, pois são elas que identificamos com o melhor da ciência. Mas elas traduzem o isolamento do trabalho especializado. É desse isolamento que se alimenta sua característica positiva, Isto é ação especializada deriva de conhecimento de campo restrito mas muito aprofundado, e, em seu campo de ação, com progressivo poder de cura. Nem será preciso lembrar as várias conquistas que fizeram a ciência e as tecnologias médicas. No entanto, é também desse isolamento que derivam os impactos negativos da ação especializada, tal como os maiores riscos de ação iatrogênica, seja pelo alto poder de sua manipulação dos corpos e dos doentes, quanto por sempre atuação parcial, necessitando reconhecer seus limites e as complementaridades obrigatórias a cada intervenção.E, se estas não se realizam, termina-se por comprometer a eficácia da ação especializada.

Conhecer o primeiro desses aspectos, o espaço e poder de intervenção positivos, é próprio da formação dos especialistas.

Integralidade, no contexto do sistema Único de Saúde pode ser vista como uma imagem objetivo, uma noção amálgama, com vários sentidos. As noções e diretrizes do SUS forma forjadas desde um lugar de oposição, a partir de uma crítica radical à práticas, instituições e organização do sistema de saúde – seus sentidos vão refletir diversas dimensões desta crítica.

Integralidade como crítica a atitude médica fragmentária, a um sistema que privilegia a especialização e segmentação, a atitude médica reducionista, a formação médica de base flexneriana – recusa em reduzir o paciente ao aparelho ou sistema biológico que supostamente produz o sofrimento e, portanto a queixa do paciente – integralidade tomada a partir do referencial da Medicina Integral.

Integralidade como crítica a práticas dos profissionais de saúde, como uma dimensão das práticas, buscar compreender o conjunto das necessidades de ações e serviços de saúde que um paciente apresenta para além da atenção individual curativa, incorporação de ações de promoção e prevenção na atenção à saúde e articulação com ações curativas e reabilitadoras – integralidade tomada a partir do referencial da Medicina Preventiva.

Integralidade como modo de organizar as práticas relaciona-se com a organização dos serviços e das práticas de saúde, crítica a separação entre práticas de saúde pública e práticas assistenciais, entre ações de saúde coletiva e atenção individual, crítica aos programas verticais – integralidade tomada como horizontalização dos programas.

Integralidade como modo de organizar o processo de trabalho em saúde, de modo a otimizar o seu impacto epidemiológico – articular atenção a demanda espontânea coma oferta programada de atenção à saúde, busca contínua de ampliar as possibilidade de apreensão e satisfação das necessidades de um grupo populacional, de ampliação da eficiência – integralidade tomada como oferta programa de atenção à saúde.

Integralidade como acesso às técnicas de diagnóstico e tratamento necessárias a cada caso quando necessário, articulação a partir da atenção básica aos meios de diagnóstico e atenção especializada quando necessário, de ampliação de acesso ao sistema de saúde e de resolutividade da atenção – Integralidade tomada como acesso a diversos níveis de atenção.

Integralidade como construção de políticas especificamente desenhadas para dar respostas a um determinado problema de saúde ou aos problemas de saúde que afligem um determinado grupo populacional,articulação intra e intersetorial, de ampliação dos âmbitos e articulação de diversos espaços para a busca de soluções, busca de qualidade de vida – Integralidade tomada como ampliação do horizonte de intervenção sobre problemas.

De acordo com o texto constitucional deveria caber ao Estado a tarefa de garantir a saúde para todos, através de políticas sociais e econômicas voltadas tanto para a “redução do risco de doença e de outro agravos”, quanto “ao acesso universal e igualitário a ações de serviços para sua promoção, proteção e recuperação” É nessa segunda perspectiva que a constituição reconhece a relevância publica das ações e serviços de saúde, e delineia um sistema único (o Sistema Único de Saúde), integrado pelas ações e serviços públicos de saúde, mas do qual também podem participar,em caráter complementar, instituições privadas.

As ações de saúde devem ser combinadas e voltadas ao mesmo tempo para prevenção e a cura. Os serviços de saúde devem funcionar atendendo o indivíduo como um ser humano integral submetido às mais diferentes situações de vida e trabalho, que o leva a adoecer e a morrer. O indivíduo não deve ser visto como um amontoado de partes (coração, fígado, pulmão, etc.) e solto no mundo.

O indivíduo é um ser humano, social, cidadão que biológica, psicóloga e socialmente está sujeito a riscos de vida. Desta forma o atendimento deve ser feito para a sua saúde e não somente para a sua doença. Isto exige que o atendimento seja feito também para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar os danos.

Isto se faz com ações de promoção (que envolve ações de /em outras áreas como habitação, meio ambiente, educação, etc.), com ações de prevenção (saneamento básico, imunizações, ações coletivas e preventivas, vigilância à saúde e sanitária, etc.) e de recuperação (atendimento médico, diagnóstico, tratamento e reabilitação para os doentes).

Estas ações de promoção, proteção e de recuperação formam um todo indivisível que não podem ser compartimentalizadas. As unidades prestadoras de serviço com seus diversos graus de complexidade formam também um todo indivisível, configurado um sistema capaz de prestar assistência integral.

Quando se busca solução para um problema de saúde, quando se recorre a um médico a um posto de saúde, a um hospital, o resultado obtido é fruto dessa complexa e imbricada relação. Os múltiplos aspectos que interagem mutuamente concorrem, por um lado, para a disponibilidade de um determinado conjunto de ações e serviços ou, por outro lado, para o surgimento de dificuldades de acesso aos mesmos.

Como se dá a construção coletiva e social da prática sanitária? Este é um processo dialético e pode-se supor que estejam envolvidas instâncias distintas, ligadas às dimensões política e técnica:
 A primeira refere-se às condições institucionais, com o surgimento de consensos, que, através do processo político, se estruturam em princípios constitucionais, passando pela regulamentação de dispositivos legais e seus respectivos mecanismos de financiamento.
 A segunda é aquela ligada ao conhecimento que, segundo modelos teóricos, passa a dar concretude e a reger a organização e a gestão do sistema de saúde e, finalmente, a definir o conjunto de tecnologias que as ciências oferecem. Estas, uma vez combinadas, segundo sua relação de custo-efetividade, resultam em práticas de saúde e assistência voltadas para as necessidades de indivíduos, famílias e comunidades.


A discussão sobre a integralidade das ações de saúde, essa miragem fugida e ao mesmo tempo central para o sistema de saúde que queremos assume de maneira exemplar essa característica. Tal conceituação implementação podem definir, num certo sentido, a essência mesma de uma política pública de saúde .O modo concreto de articular ações assistenciais, dizendo-as integrais no cuidado, define o patamar ético e técnico de programação e avaliação das qualidades da assistência, dimensões situadas no núcleo duro do planejamento e gestão em saúde.
O curioso é que integralidade é uma palavra que não pode nem ao menos ser chamada de conceito. Na melhor das hipóteses, é uma rubrica conveniente para o agrupamento de um conjunto de tendências cognitivas e políticas com alguma imbricação entre si, mas não completamente articuladas. Pode-se identificar, grosso,modo, um conjunto de tradições argumentativas que desembocam neste agregado semântico: por um lado, um discurso propagado por organismos internacionais, ligado às idéias de atenção primária e de promoção de saúde: por outro, a própria demarcação de princípios identificada em pontos esparsos da documentação oficial das propostas de programas mais recentes do Ministérios da Saúde em nosso país. Por fim nas críticas e proposições sobre assistência de uma definição de fato sobre o que seria tal “integralidade! É ao mesmo tempo uma fragilidade e uma potencialidade, sendo ambas características apontadas, ainda que nem sempre simultaneamente, em vários dos textos aqui reunidos. Essa não definição talvez explique ainda, mesmo que parcialmente, a clara escassez de bibliografia sobre o tema. JUNIOR apud PINHEIRO & MATTOS (2001)”.
Poderíamos dizer, numa primeira aproximação, que integralidade é uma das diretrizes básicas do Sistema Único de Saúde, instituído pela Constituição de 1988. De fato, o texto constitucional não utiliza a expressão integralidade; ele fala em “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (Brasil 1988, art.198). Mas o termo integralidade tem sido utilizado correntemente para designar exatamente essa diretriz.
Integralidade não é apenas uma diretriz do SUS definida constitucionalmente. Ela é uma “bandeira” de luta, parte de uma “imagem objetivo” , um enunciado de certas características do sistema de saúde, de suas instituições e de suas práticas que são consideradas por alguns (diria eu, por nós), desejáveis. Ela tenta falar de um conjunto de valores pelos quais vale lutar, pois se relacionam a um ideal de uma sociedade mais justa e mais solidária, MATTOS (2001).
Integralidade, no contexto da luta do movimento sanitário, parece ser assim: uma noção amálgama, prenhe de sentidos. Nessa perspectiva, aquela pergunta inicial – 0 que é integralidade – talvez não deva ter resposta unívoca. Talvez não devamos buscar definir de uma vez por todas a integralidade, posto que desse modo poderíamos abortar alguns dos sentidos do termo e, com eles, silenciar algumas das indignações de atores sociais que conosco lutam por uma sociedade mais justa, MATTOS (2001).
As noções de integralidade, assim como os demais princípios e diretrizes do SUS, foram forjadas desde um lugar de oposição, e desde uma crítica radical às práticas, às instituições e à organização dos sistemas de saúde. Entretanto, os que defendem o SUS hoje o fazem de um lugar híbrido de situação /oposição.
Deveremos refletir sobre três grandes conjuntos de sentidos do princípio de integralidade. Eles incidem sobre diferentes pontos: o primeiro conjunto se refere a atributos das práticas dos profissionais de saúde, sendo valores ligados ao que se pode considerar uma boa prática, independentemente de ela se dar no sentido âmbito do SUS. O segundo conjunto refere-se a atributos da organização dos serviços: o terceiro aplica-se às respostas governamentais aos problemas de saúde.
É possível reconhecer alguns traços de semelhanças, algumas analogias, alguns fios de ligação que articulam todos esses sentidos. Quer tomemos a integralidade como princípio orientador das práticas, que como princípio orientador da organização do trabalho, quer da organização das políticas, integralidade implica uma recusa ao reducionismo, uma recusa à objetivação dos sujeitos e talvez uma firmação da abertura para o diálogo.
Confome., PINHEIRO (2001), a integralidade é assumida como sendo uma ação social resultante da permanente interação dos atores na relação demanda e oferta, em planos distintos de atenção à saúde (plano individual – onde se constroem a integralidade no ato da atenção individual e o plano sistêmico – onde se garante a integralidade das ações na rede de serviços), nos quais os aspectos subjetivos e objetivos sejam considerados.


Referências:

CAMPOS, Carlos Eduardo Aguilera. O desafio da Integralidade segundo as perspectivas da vigilância da saúde e da saúde da família. Ciências e saúde coletiva, 8(2):569-584,2004.

Ministério da Saúde – Secretaria de Assistência à Saúde – Desenhos da Organização da Atenção no SUS – A Integralidade da Atenção à Saúde – Encontro dos estudantes universitários da área de saúde e o SUS – Brasília – 17 de maio de 2003.



PINHEIRO, Roseni; MATTOS Rubens A. Os Sentidos da Integralidade na atenção e no cuidado à saúde.Rio de Janeiro: ABRASCO, 2001.



SCHRAIBER, Lilia Blima. Desafios Atuais da |Integralidade em Saúde. Jornal da Rede Feminista de Saúde , nº 17, maio, 1999.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

A informação contribui no embasamento do estudo sobre segurança alimentar. Por esta razão, sugiro a leitura do relatório de Flavio Luiz Schieck Valente Coordenador Técnico da Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (ABRANDH). http://www.social.org.br/relatorio2005/relatorio026.htm
(Para conhecer a ABRANDH = http://www.abrandh.org.br/).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Iniciando discussão sobre segurança alimentar e nutricional

No comentário sobre o artigo "Brasileiro está mais gordo e mais alto" *, uma estudante do curso de Nutrição da UFPB, levantou algumas questões: que são necessárias medidas para garantir a segurança alimentar; que muitos não têm recursos para adquirir alimentos e que os nutricionistas devem estar preparados para trabalhar com a adequação a isto. Sugeri começarmos uma discussão olhando o site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome:
http://www.mds.gov.br/programas/seguranca-alimentar-e-nutricional-san.
Nele, poderemos ver as propostas e ações da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), qual o seu papel e os programas do governo federal em andamento.
Sugiro ainda que se comece a pensar nas consequências das políticas públicas sobre o estado nutricional dos indivíduos (e consequentemente sobre sua saúde), quando elas são ou não voltadas para a população.
Com esse fio da meada, podemos começar a tecer a construção de um espírito crítico, que nos possibilitará melhores avaliações e consequentemente melhor atuação prática.
Aguardo as opiniões.

*Reproduzido do "Bom dia, doutor", cortesia do laboratório Hebron. Ver artigo + comentários abaixo.

Pesquisa aponta aumento do risco de obesidade infantil no país

Uma pesquisa do Ministério da Saúde constatou que a desnutrição infantil caiu quase sete pontos percentuais em dez anos. Segundo o estudo Saúde Brasil 2008, a desnutrição atingia, em 1996, 13,4% das crianças com menos de cinco anos, índice que caiu para 6,7% em 2006. A informação consta no estudo Saúde Brasil 2008, uma publicação anual da Secretaria de Vigilância em Saúde que neste ano abrange os 20 anos do SUS (Sistema Único de Saúde). A pesquisa, entretanto, também aponta que aumentou o risco de obesidade, principalmente entre os adolescentes. Nos últimos 29 anos, a relação entre peso e altura (Índice de Massa Corporal) de meninos de 10 a 19 anos aumentou 82,2%. Segundo a coordenador do ministério Deborah Malta, "embora os números demonstrem que os meninos estão abaixo do padrão referência da OMS (Organização Mundial da Saúde), preocupa o aumento crescente do peso deles". A pesquisa também revela que houve redução da mortalidade infantil entre 1980 e 2005, já que o número absoluto caiu de 180.048 para 51.544 - queda de 71%. A diarreia, que era a segunda causa de mortalidade há 29 anos, passou para a quarta posição em 2005. A pesquisa aponta uma redução de 20% nas mortes por doenças cardiovasculares --grupo que inclui o infarto e o acidente vascular cerebral - no período de 1990 a 2006. Mesmo assim, o grupo de doenças matou cerca de 300 mil pessoas há três anos, quase um terço do total de óbitos registrados no país. De acordo com o diretor da secretaria Otaliba Libânio Neto, a melhora se deve às políticas de prevenção à saúde e a melhores hábitos da população. Mas os dados mostram que as reduções mais significativas nas mortes estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste, já que a região Nordeste apresentou aumento.

Fonte: Bom Dia Doutor 23.11.2009 - Cortesia do Laboratório Hebron‏

Mortes por diabetes crescem no Brasil

As mortes por diabetes cresceram 47% no Brasil de 1990 a 2006, principalmente entre os homens acima dos 60 anos, segundo dados do estudo Saúde Brasil 2008, do Ministério da Saúde, divulgado na quinta-feira (19). A doença foi responsável pelo óbito, como causa básica, de 24 a cada 100 mil adultos entre 20 e 74 anos, em 2006, frente a 16,3 há 16 anos. O aumento está ligado ao ganho de peso do brasileiro, que está quase na faixa do sobrepeso. Homens com mais de 40 anos são os que tiveram maior aumento nas mortes em decorrência do diabetes, 2,3% ao ano. A partir dos 60 anos, o número sobe para 3,5% ao ano. Nas mulheres, as taxas são menores - 1% e 1,7% ao ano, respectivamente. Entre os jovens de 20 a 39 anos houve redução de 1,6% para mulheres e 1,5% para homens. Segundo o médico Marcio Mancini, diretor do grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Hospital das Clínicas de São Paulo, as mortes causadas pelo diabetes podem ser por insuficiência renal, tromboses, infartos e AVC (Acidente Vascular Cerebral, conhecido como derrame). Os óbitos por doenças cardiovasculares (infarto e AVC) caíram 20,5%. Mesmo assim, estas doenças mataram, em 2006, 300 mil pessoas, sendo a principal causa de morte no país. Para o médico, tratamentos eficazes impulsionaram a queda. O risco de morte por doenças cardiovasculares teve redução de 187,9 por 100 mil habitantes, em 1990, para 149,4 por 100 mil habitantes, em 2006. E jovens de 20 a 39 anos estão morrendo menos ainda. Para as mulheres jovens, a queda anual foi de 3,6%, enquanto que para os homens foi de 3,3% ao ano. As regiões Sul e Sudeste apresentam um declínio mais acentuado desde 1990, enquanto o Nordeste teve aumento. O AVC, dentre todas as causas de morte por causa de doenças no aparelho circulatório, é a principal com 9,4% dos casos, seguido por doenças isquêmicas do coração, como infarto, com 8,8%. Apesar disso, as mortes por doenças cerebrovasculares caíram 30,9% entre 1990 e 2006. A diminuição é observada em todas as faixas etárias, tanto nas mulheres quanto nos homens, com maior declínio na região Sul e Sudeste. Um dos fatores indicados como causador da queda na mortalidade está a redução do hábito de fumar.

Fonte: Bom Dia Doutor 23.11.2009 - Cortesia do Laboratório Hebron‏

Brasileiro está mais gordo e mais alto

A população engordou e ficou mais alta nos últimos anos no Brasil. Cerca de 43,3% das pessoas com mais de 18 anos que vivem nas capitais estão com sobrepeso. E esta é a tendência para todo brasileiro, aponta estudo Saúde Brasil 2008, do Ministério da Saúde, divulgado na quinta-feira (19). "Metade da população já está com sobrepeso. As principais causas são a mudança para hábitos alimentares menos saudáveis e a menor prática de atividades físicas", explica Marcio Mancini, diretor do grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Hospital das Clínicas de São Paulo. Os meninos de 10 a 19 anos tiveram aumento de 82,2% do IMC (Índice de Massa Corpórea que dá a razão entre o peso e a altura) em 29 anos. As meninas, na mesma faixa etária, obtiveram aumento de 70,3%. Mas as mulheres apresentam estabilidade no ganho de peso desde a década de 90, com a valorização do corpo e o combate ao sobrepeso, enquanto os homens não param de engordar. Segundo o médico, o aumento da obesidade é expressivo na camada mais pobre da população. "A falta de informação leva a pessoa a comer pior. Além disso, alimentos baratos e calóricos como o açúcar e o óleo de soja são muito usados. Assim, a pessoa adoça mais do que precisa e faz muita fritura". Para Mancini, o governo deve atuar na conscientização da população nas unidades básicas de saúde para reverter a situação. De acordo com o estudo, o IMC médio do brasileiro está muito próximo de 25 kg/m², limite para passar do perfil normal para o de sobrepeso. Se o valor ficar acima de 30, é considerado obesidade. O aumento da obesidade ainda é um dos fatores para a elevação das mortes por diabetes no país. O crescimento está mais concentrado nos homens com mais de 40 anos e houve queda entre as mulheres de 20 a 39 anos. Enquanto eles ganharam mais peso, as mulheres cresceram quase duas vezes mais. A estatura média do homem cresceu 1,9 cm em 14 anos e chegou a uma média de 1,70 m em 2003. Já as mulheres, tiveram um aumento de 3,3 cm de altura, alcançando 1,58 m.

Fonte: Bom Dia Doutor 23.11.2009 - Cortesia do Laboratório Hebron‏

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Reinício de atividades

As postagens do blog foram temporariamente suspensas, retornamos hoje com um interessante artigo do site www.adital.com.br. Que nos sirva de reflexão, pois nos mostra como a política interfere na vida dos cidadãos. A Via Campesina é um movimento internacional que reune organizações camponesas de pequenos e médios agricultores e trabalhadores agrícolas em geral, além de mulheres rurais e comunidades indígenas e negras da Ásia, África, América e Europa, sendo uma das suas principais políticas a defesa da soberania alimentar.

A Via Campesina na Cúpula da FAO - artigo do site ADITAL

VC na FAO - Não é mais hora de falar: Vamos por em marcha a Soberania Alimentar

Vía Campesina *Adital - Tradução: ADITAL (www.adital.com.br)

A Via Campesina na Cúpula da FAO

Ao redor de 40 camponeses e camponesas provenientes de 25 países do mundo, membros do movimento internacional La Vía Campesina, vão se reunir em Roma para a Cúpula Mundial da FAO sobre Soberania Alimentar e para o Fórum da Sociedade Civil, que acontecerá entre os dias 13 e 18 de novembro. "Não é mais hora de falar", disse recentemente Nettie Wiebe, uma agricultora canadense, líder do movimento. "Se o mundo leva a sério o fato de erradicar a fome, não existem muitas opções. Devemos apoiar e animar os camponeses a produzir para suas comunidades de maneira sustentável. Para que haja uma solução autêntica para a crise alimentar a agricultura de pequena escala, e não as corporações transnacionais, deve retomar o controle sobre os recursos produtivos alimentares, tais como a terra, as sementes, a água e os mercados locais".
Mesmo que o mundo produza suficientemente para alimentar cada boca, a cifra de pessoas que passam fome subiu dramaticamente para mais de 1 milhão este ano, por primeira vez na história da humanidade; 80% dessa população que sofre com a fome e suas consequências são camponeses/as, desalojados ou trabalhadores rurais, homens e mulheres. Não é uma miragem a existência de tantas famílias ao redor da fome no campo; é uma crua realidade.
Ironicamente, essa crise alimentar sem precedentes aumenta com o desenvolvimento de iniciativas encaminhadas na mesma direção de políticas que criaram o desastre atual. É o caso do Partenariato Global para a Agricultura e Segurança Alimentar e do Fundo Fiduciário para a Segurança Alimentar do Banco Mundial (BM), apoiados pelo G-20. Financiam o desenvolvimento de tecnologias para a "revolução verde", que incrementam a dependência dos agricultores do mercado e que propiciam a destruição dos solos. Todas essas iniciativas promovem mais políticas de livre comércio e trabalham lado a lado com a agroindústria.
No entanto, as grandes companhias não têm nenhum interesse em salvar o mundo da fome. Concentram-se em aumentar suas margens de benefícios e de participações no mercado. O que aconteceu durante a crise alimentar em 2007 foi muito ilustrativo: as companhias dedicadas ao agronegócio tiveram enormes benefícios (1), enquanto que milhões de pessoas sucumbiram à fome e à pobreza. Atualmente, as terras agrícolas converteram-se em um investimento proveitoso e as companhias estão tomando enormes quantidades de terreno ao redor do mundo, expulsando os agricultores locais para poder produzir alimentos para exportar ou para transformar-se em agrocombustíveis.
Durante a Cúpula da FAO, em Roma, a Vía Campesina defenderá a necessidade de uma nova governança frente à alimentação e à agricultura, para chegar a soluções frente à crise alimentar e à atual crise climática. As políticas alimentares não devem ficar nas mãos dos "clubes de doadoras" e das instituições financeiras. Um sistema de governança democrática -como o que está sendo discutido no Comitê de Segurança Alimentar Mundial da FAO- deve ser implementado imediatamente para assegurar que os países e os povos no mundo tenham o direito a colocar em marcha a soberania alimentar, entendida como o direito das comunidades e das nações a desenvolver e promover seus próprios sistemas locais e políticas alimentares, respeitando as culturas e o meio ambiente.
"Durante o Fórum da Sociedade Civil, em Roma, serviremos comidas ecológicas procedentes dos cultivos dos/as agricultores/as locais. Regularmente também oferecemos uma média de 150 mil comidas ecológicas em restaurantes escolares, em toda a Itália", explicou Andrea Ferrante, da Associação Italiana de Agricultura Biológica (AIAB), uma organização membro da Vía Campesina. "A Soberania Alimentar começa a cada dia com cada comida. Já está sendo implementada localmente em muitos lugares e com vontade política podemos difundi-la ao redor do mundo, resolvendo a atual crise alimentar", agregou.
Nota:
(1) Por exemplo, Cargill, a maior empresa comercializadora de grãos do mundo, informou um aumento em seus benefícios ao redor de 70% em 2007 - 157% de aumento nos benefícios desde 2006. (http://www.grain.org/seedling/?id=592)/
(Jacarta, 9 novembro de 2009)* Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas
Ao publicar em meio impresso, favor citar a fonte e enviar cópia para: Caixa Postal 131 - CEP 60.001-970 - Fortaleza - Ceará - BrasilPara receber o Boletim de Notícias da Adital escreva a adital@adital.com.br

domingo, 27 de setembro de 2009

A comida rege sentimentos


Gosto muito de cinema e, dentre os gêneros prediletos, destaco os filmes que têm a gastronomia como tema. Recentemente, assisti ao ótimo filme "Estômago" e, procurando comentários e críticas na net, localizei este excelente artigo que reproduzo abaixo. De quebra, a autora nos fornece uma lista de filmes relacionados à gastronomia, dos quais ressalto "A festa de Babette" e "Como água para chocolate".

A comida rege sentimentos
Amanda Lima
fonte: reproduzido de http://www.portalibahia.com.br/blogs/diariogourmet/?tag=a-comida-rege-sentimentos

O filme Estômago

Acabei de assistir ao filme “Estômago”, um longa-metragem brasileiro do cineasta Marcos Jorge, e confesso que entre todos os grandes clássicos de filmes que eu já assisti, que têm como tema principal a Gastronomia, a exemplo de “Como Água para Chocolate” e “A Comilança” (Le Grande Boyfthe), o filme “Estômago” me contagiou.

Através dos salgados simples de um bar, como a coxinha e o pastel, e suas repercussões de quando mal feitos para bem feitos, passando por pratos regionais e a influência italiana que dá um toque de técnica e sofisticação, o filme é uma comédia dramática que aborda “um aspecto real” da Gastronomia de forma original, nua e cruel.

Além da cautela na construção dos personagens, principalmente o de João Miguel, que interpreta o cozinheiro Raimundo Nonato, um nordestino que acaba de chegar numa grande cidade e que é característica na maioria dos cozinheiros que trabalham nas cozinhas das grandes metrópoles. No filme, a comida foi abordada não somente para saciar a fome física, assim como também, para sustentar a alma dos personagens; ela teve o “poder” de reger sentimentos, equilibrar situações e causar muitas confusões.

Para quem for assistir ao filme, recomendo dar uma conferida no making off de como foi feita a produção das comidas para as filmagens. Simplesmente fantástico!

Vou aproveitar para deixar indicações de alguns filmes para os amantes da Gastronomia:

A Comilança
A Festa de Babette
Chocolate
Comer, beber e viver
Como Água para Chocolate
O Tempero da Vida
Ratatoiulle
Sem Reservas
Simplesmente Martha
Sob o Sol da Toscana

Espero que gostem das indicações e se deleitem com as histórias!
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Fonte do artigo Controle do Apetite

http://www.drauziovarella.com.br/artigos/controleapetite.asp

Controle do apetite - Drauzio Varella

Controle do apetite

A fome resulta de um equilíbrio entre circuitos antagônicos, construídos e selecionados por nossos antepassados remotos com a finalidade de resistir à falta permanente de alimentos
Até a segunda metade do século XX, a desnutrição foi nosso principal problema de saúde pública; hoje, é a obesidade. Cerca de 10% dos brasileiros adultos são obesos, e outros 30% estão acima do peso saudável. Portanto, cerca de 50 milhões de pessoas deveriam perder peso para evitar doenças como ataques cardíacos, derrames cerebrais, diabetes, reumatismos e alguns tipos de câncer.
Os sistemas biológicos que controlam a ingestão de alimentos são complexos e mal conhecidos. Durante os 5 milhões de anos da existência humana, a fome representou ameaça permanente à sobrevivência da espécie. Entre nossos antepassados, sobreviveram apenas aqueles capazes de estabelecer um equilíbrio rígido entre o número de calorias ingeridas e as necessidades energéticas do organismo.
Na evolução de nossa espécie, foram selecionados indivíduos cujos cérebros eram capazes de engendrar mecanismos biológicos altamente eficazes para evitar a perda de peso. Através deles, assim que o cérebro detecta diminuição dos depósitos de gordura, a energia que o corpo gasta para funcionar em repouso com a finalidade de exercer suas funções básicas (metabolismo basal) cai dramaticamente, ao mesmo tempo em que são enviados sinais irresistíveis para procurar e consumir alimentos.
Infelizmente, quando ocorre aumento de peso, os sinais opostos são quase imperceptíveis: não há grande aumento da energia gasta em repouso, a fome não diminui significativamente, nem surge estímulo para aumentar a atividade física; pelo contrário, tendemos a nos tornar mais sedentários.
Além disso, por razões mal compreendidas, o corpo tende a defender o peso mais alto que já atingiu. Para tristeza da mulher e do homem moderno, o organismo protege as reservas de gordura mesmo quando estocadas em níveis muito elevados. A mais insignificante tentativa de reduzi-las é interpretada pelo cérebro como ameaça à integridade física. Ação da insulina e da lepitina
Para controlar o peso a longo prazo, o organismo produz dois hormônios que permitem avaliar os níveis dos depósitos de gordura e ajustar o apetite e a energia que deve ser gasta em função deles: a insulina e a lepitina. O papel da ação cerebral da insulina no controle do peso foi descrito há quase 30 anos. Esse hormônio produzido pelo pâncreas age numa área do cérebro rica em receptores dotados da propriedade de reconhecê-lo. Em ratos, quando esses receptores são inativados, os animais se tornam obesos, imediatamente. Em seres humanos, enquanto esses receptores estão ativos, o cérebro mantém sua sensibilidade aos efeitos da insulina, e o apetite diminui; quando os receptores se tornam resistentes à ação da insulina, o peso aumenta.
Em 1994, a equipe de Jeffrey Friedman, da Universidade Rockfeller, trabalhando com ratos mutantes extremamente obesos, descobriu a lepitina, o hormônio que abriu campo para o estudo dos mecanismos moleculares do controle de peso. Friedman descobriu que a lepitina era uma proteína antiobesidade produzida pelo tecido gorduroso, que, ao ser administrada a ratos com excesso de peso, provocava emagrecimento graças a dois mecanismos: redução do apetite e aumento da energia gasta em repouso (metabolismo basal).
Apesar de terem sido descritos casos de obesidade humana por defeitos na produção de lepitina - portanto, passíveis de serem tratados com esse hormônio -, por razões ainda pouco claras, a maioria das pessoas obesas apresentam níveis até mais altos de lepitina, mas são resistentes às suas ações. Hoje, admite-se que a queda dos níveis de lepitina provocada pela redução dos depósitos de gordura, ao ser detectada pelo cérebro, provoca aumento do apetite e retardo do metabolismo basal. Mas, quando os depósitos de gordura aumentam, levando à maior produção de lepitina, o mecanismo oposto não é significativo: a partir de certos níveis de lepitina na circulação, o cérebro se torna resistente a ela.
Hormônios associados ao apetite Ao lado desses hormônios que controlam o apetite e o metabolismo a longo prazo, o organismo produz outros hormônios para controlar o apetite no dia-a-dia. O primeiro descrito foi a colecistoquinina, proteína que o intestino libera na corrente sangüínea para estimular o centro da saciedade existente no cérebro e impedir a ingestão exagerada de calorias. Há quatro anos, pesquisadores japoneses descobriram a grelina, um potente estimulador do apetite na rotina diária. A grelina é o hormônio responsável pela fome que ataca quando chega a hora do almoço.
Pesquisas mostram que os níveis de grelina na circulação aumentam uma a duas horas antes das principais refeições do dia e que voluntários, ao receber injeções de grelina, experimentam aumento significativo do apetite. Para contrabalançar as ações promotoras de apetite desencadeadas pela grelina produzida quando o estômago fica vazio, a chegada de alimentos ao intestino provoca a liberação de um hormônio chamado PYY. Injeções desse hormônio em camundongos e voluntários humanos causam diminuição do apetite.
Esses hormônios controladores do apetite e do metabolismo a curto ou longo prazo agem predominantemente numa região do hipotálamo conhecida como núcleo arqueado, o centro no qual reside o controle-mestre dos sistemas regulatórios. Para o núcleo arqueado convergem dois tipos de neurônios que exercem ações opostas: estimulação e inibição do apetite.
A fome que sentimos resulta de um equilíbrio ajustado entre esses circuitos antagônicos, construídos e selecionados por nossos antepassados remotos com a finalidade de resistir à falta permanente de alimentos, numa época em que as refeições eram alternadas com longos períodos de jejum forçado.
O que representou sabedoria do cérebro para enfrentar a penúria deu origem ao flagelo da obesidade em tempos de fartura.

Raízes biológicas da obesidade - Drauzio Varella

Raízes biológicas da obesidade

Tentar emagrecer é um inferno. Segunda-feira você começa o regime: duas torradas no café, meia maçã às dez horas, bifinho de cem gramas com três folhas de alface no almoço, iogurte desnatado às quatro da tarde e sopinha de cenoura no jantar.Imbuído das melhores intenções, você resiste quatro semanas ao suplício da fome permanente, sobe na balança e confere a recompensa: quatro quilos a menos. Sua mulher fica feliz, e o pessoal do escritório elogia com a sutil delicadeza masculina: 'Dando um fim naquela barriga ridícula, meu?Depois de um mês de dieta rigorosa, no entanto, você começa a fraquejar, mas apenas em dia de festa: meio sanduichinho, dois copos de cerveja, um brigadeiro. No dia seguinte, consumido pelo remorso, você retorna à dieta rigorosa. No fim do segundo mês, porém, a balança é menos generosa: dois quilos a menos. Não é o ideal, mas está bom, pensa você. Afinal já foram seis quilos! Nesse ritmo!No terceiro mês, sua disposição para jejuar começa a dar sinais de cansaço. Não só em dia de festa acontecem as recaídas, nem há necessidade de comidas especiais. Você começa a se sujar por pouco: empadinha de padaria, salgadinho roubado do pacote do filho, pedaço de pudim esquecido na geladeira. Impiedosa, a balança trava e você se queixa: 'Passo fome e não adianta nada'.Algumas semanas depois, você observa consternado que a menor extravagância alimentar é punida imediatamente com ganho de peso; o sacrifício de dias consecutivos é malbaratado por um deslize mínimo no fim de semana. Com a auto-estima em baixa, você desanima: 'Não agüento mais fazer regime'. Num piscar de olhos, engorda tudo o que perdeu e ainda ganha mais alguns quilos, de castigo!Por que razão é tão difícil manter o peso ideal, se todos almejam ficar esguios e sabem que a obesidade aumenta o risco de hipertensão, diabetes, osteoartrite, ataques cardíacos e derrames cerebrais?No cérebro, existe um centro neural responsável pelo controle da fome e da saciedade. Milhões de anos de seleção natural forjaram a fisiologia desse centro, para assegurar a ingestão de um número de calorias compatível com as necessidades energéticas do organismo. Nessa área cerebral, são integradas as informações transmitidas pelos neurônios que conduzem sinais recolhidos no meio externo, nas vísceras, na circulação e no ambiente bioquímico que serve de substrato para os fenômenos psicológicos.Estímulos auditivos, visuais e olfatórios são permanentemente censoreados pelo centro da saciedade e explicam a fome que subitamente sentimos diante do cheiro ou da visão de certos alimentos. Faz frio, os neurônios responsáveis pela condução dos estímulos térmicos enviam informações para o centro, e a fome aumenta. Esse mecanismo evoluiu em resposta às maiores necessidades energéticas dos animais para manter constante a temperatura corpórea no inverno.Quando as paredes do estômago são distendidas, a taxa de glicose na circulação aumenta e certos neurotransmissores são liberados no aparelho digestivo ou quando determinadas enzimas digestivas atingem os limites de sua produção, o centro da saciedade bloqueia a fome e interrompe a refeição.Fenômenos psicológicos também interferem permanentemente com o mecanismo de fome e saciedade, porque os centros cerebrais são especialmente sensíveis aos neurotransmissores envolvidos nas sensações de prazer, raiva, amor ou medo. Por isso, comemos mais quando estamos entre amigos, e menos em ambientes hostis ou sob estresse psicológico.Imaginemos nossos ancestrais que viveram há 20 mil anos, por exemplo, apenas um segundo atrás no relógio da evolução. Como se alimentavam eles naqueles tempos de alimentação escassa? Faziam regime de bifinho com salada para manter a elegância?A história de nossa espécie é marcada pela fome crônica e epidêmica. Nossos ancestrais procuravam desesperadamente alimentos altamente calóricos para sobreviver aos tempos de vacas magras. Comiam frutas ricas em carboidratos e a carne dos animais que conseguiam abater ou das carcaças que disputavam com as hienas e os urubus. A possibilidade de armazenar provisões surgiu com a agricultura, há meros 10 mil anos. Durante milhões de anos, alternamos refeições fartas com longos períodos de jejum forçado.O cérebro humano foi forjado pela penúria, como lembra o neurologista Daniele Riva. Caso o centro da saciedade tivesse sido programado para desligar a fome no instante exato em que ingeríssemos a última caloria necessária para o funcionamento do organismo naquele dia, seríamos todos esbeltos. A penúria obrigou-o a ser complacente, no entanto. Nas raras oportunidades em que encontrávamos comida farta, tínhamos que ingeri-la na maior quantidade possível, e estocar as calorias em excesso sob a forma de gordura para servir de reserva.Os portadores de centros de saciedade de atuação, restrita apenas às necessidades imediatas do organismo, não atingiram a maturidade sexual porque não sobreviveram ao jejum que se seguia, e não deixaram filhos. Somos descendentes de indivíduos nos quais o centro da fome só era desligado depois da ingestão de centenas de calorias em excesso. Por isso, tantas vezes levantamos da mesa com a sensação de que deveríamos tê-lo feito dez minutos antes.A natureza é sábia, todos dizem, mas não foi capaz de prever que chegaríamos ao estado de fartura atual, acessível a milhões de seres humanos. Animais com cérebros forjados em tempos de penúria não podem ter geladeira cheia, churrascaria rodízio e disque-pizza à disposição. Fonte:http://drauziovarella.ig.com.br/artigos/obesidade_raizesbiologicas.asp

domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre a produção de alimentos

Verdades ocultas sobre nossa comida

Silvia Ribeiro *

Muita gente não sabe que o aumento da produção através de variedades de cultivos de alto rendimento (sementes "melhoradas" ou híbridos) acarreta a diminuição de nutrientes, vitaminas e proteínas nos alimentos produzidos. É um efeito conhecido há décadas por agrônomos e pesquisadores agrícolas chamado “efeito diluição”. O crescimento drástico do rendimento dos cultivos por hectares baseados em sementes híbridas, uso de fertilizantes sintéticos e irrigação eleva o volume de matéria colhida, mas é menos nutritivo, principalmente porque a mesma quantidade de nutrientes se diluem em maior quantidade de folhas grãos ou frutos.

Um artigo recente de Donald R. Davis (Declining fruit and vegetable composition. What´s the evidence?, HortScience, vol. 44/1, febrero 2009) analisa vários estudos anteriores sobre o tema. Conclui que tanto no caso dos grãos como o de hortaliças e frutas se registra uma diminuição de nutrientes, paralelamente ao aumento de produção por hectares. No caso das hortaliças há diminuição de cálcio e cobre de 17 até 80%, junto à diminuição de outros nutrientes, como ferro, manganês, zinco e potássio. Um estudo do ano de 2004 que mediu a quantidade de proteínas e cinco vitaminas (A, C e três do complexo B) sobre 43 hortaliças encontrou diminuição também destes elementos: até 6% em proteínas e de 15 a 38% para três das 5 vitaminas estudadas. Outra análise sobre milho e trigo confirmam a mesma tendência.

Em sua revisão, Davis conclui que como a seleção de laboratório para produzir híbridos se basear em aumentar o volume dos grãos, frutas e folhas, compostas majoritariamente de carboidratos, não se leva em conta que este incremento focalizado implica a diluição de “dúzias de outros nutrientes e fitoquímicos”. Não é um fator depreciável: a Organização para a Agricultura e Alimentação de Nações Unidas (FAO) denomina essa crescente falta de micronutrientes nos alimentos de “a fome oculta”. Segundo esse organismo, um bilhão de pessoas sofrem deficiência de ferro, fator associado nos países pobres a 20% dos casos de morte durante a gravidez e a maternidade. Também nesses países um de cada três menores de cinco anos sofrem retardo de crescimento por falta de micronutrientes, e 40 milhões de pesssoas sofrem problemas de visão ou cegueira por falta de vitamina A, entre outros exemplos. Por outro lado, um bilhão consomem em demasiado calorias e são obesas.

A "revolução verde", baseada em aumentar o rendimento de poucos cultivos, promover a uniformização dos campos com sementes híbridas, mecanização e uso intensivo de agrotóxicos produziu mais volume de comida, mas menos variadas e que cada vez alimenta menos. Ao mesmo tempo favoreceu a concentração do comércio agro-alimentar em uma vintena de corporações transnacionais que monopolizam desde as sementes e os agrotóxicos até a distribuição e processamento dos alimentos.

Ademais de ser menos nutritivos, esses alimentos contêm cada vez maior quantidade de resíduos de agrotóxicos e químicos, devido a sua industrialização e embalagem.
São um gerador “silencioso”. mas contínuo e onipresente de enfermidades, que vão do aumento significativo de alergias a efeitos mais graves como problemas neurológicos, má-formações de nascimento, infertilidade e câncer. Além disso, os agrotóxicos e fertilizantes sintéticos destroem os solos e contaminam as águas.

O cúmulo deste desenvolvimento doente e que adoece as pessoas são os cultivos transgênicos. Ademais de basearem-se em híbridos – nos quais se introduzem materiais genéticos de vírus, bactérias e espécies com as que nunca se cruzariam na natureza -, são resistentes a vários agrotóxicos, e por sua aplicação massiva deixa resíduos desses venenos até 200 vezes maiores que seus similares convencionais também cultivados com químicos.

Aos efeitos dos agrotóxicos, os transgênicos somam novos impactos pela manipulação a que são submetidos. Por isso, a Associação Americana de Medicina Ambiental se pronunciou em maio de 2009 exortando a seus membros, pacientes e público em geral a evitar o consumo de transgênicos.

Obviando essas realidades, muitos governos e organismos internacionais fazem eco do discurso das transnacionais do agronegócio e nos dizem que se necessita produzir maiores volumes de alimentos com mais agricultura industrial e transgênica para “resolver” a fome no mundo. Digamos: comer mal, mas comer algo. Entretanto, tampouco isso sucede. Ainda que cada vez mais se produza maiores quantidades de alimentos, paralelamente aumenta o número de esfomeados e desnutridos. Mais quantidade não significa que chega aos que necessitam. Pelo contrário, se os alimentos se transformam cada vez mais em mercadorias em mãos de empresas, cada vez mais há mais pobres e esfomeados que não podem pagar-lhes.

A solução real está justamente no contrário: que a produção de alimentos seja local e diversificada, em mãos de camponeses e agricultores de pequena escala que usam sementes locais e brindam alimentos puros e nutritivos, que não só alimentem a si mesmos, suas famílias e comunidades (a metade da população mundial), senão que também produzam a maior parte dos alimentos, que consomem dentro de seus países. Ao não se cegar com a alta produção de um só cultivo e não usar agrotóxicos, favorecem a colheita de muitas outras variedades em conjunto com cada cultivo, fonte de muitos outros nutrientes.

31/08/2009
* Silvia Ribeiro é Pesquisadora do Grupo ETC
artigo reproduzido de publicação no Portal Brasil de Fato:
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/verdades-ocultas-sobre-nossa-comida

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Estudando as interfaces da Nutrição

Como primeiro ponto de discussão para situar a Nutrição num contexto mais amplo, sugerimos a leitura do resumo deste trabalho realizado por professores e alunos do Departamento de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O trabalho completo encontra-se no link:
http://www.seer.ufjf.br/index.php/aps/article/viewFile/347/125

RELATO DE EXPERIÊNCIA
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM NUTRIÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA DE EXTENSÃO POPULAR EM JOÃO PESSOA-PARAÍBA
Educational Practices in Nutrition in Primary Care: Considerations from an Experiment in Popular Extension in Joao Pessoa, Paraiba
Ana Cláudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos; Ingrid D’Avilla Freire Pereira; Pedro José Santos Carneiro Cruz.
RESUMO
O presente artigo se propõe a refletir sobre o processo de construção de uma experiência de extensão popular desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba, destacando seus limites e possibilidades, no sentido de contribuir para a qualificação da formação dos profissionais de saúde, especialmente do nutricionista, à luz das necessidades sócio-político-sanitárias contemporâneas impostas pela realidade brasileira.O projeto de extensão “Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde” (PINAB), realizado no bairro do Cristo (João Pessoa-PB), é desenvolvido segundo o referencial teórico da educação popular, com práticas de ação e reflexão da Nutrição no campo da Saúde Coletiva e da Segurança Alimentar e Nutricional. Possui cinco grupos operativos, cada um apoiando a organização e o exercício de atividades coletivas com gestantes, idosos, escolares, famílias beneficiárias pelo Programa Bolsa Família e mobilização popular. Além disso, participam de visitas domiciliares, aconselhamento dietético individual e da gestão compartilhada do próprio Projeto. Esta experiência tem possibilitado aos extensionistas a percepção do trabalho em saúde como um ato pedagógico ético, de compromisso social e construção coletiva de cidadania. O desenvolvimento de suas ações tem possibilitado uma intervenção humanizada da nutrição no cotidiano da comunidade.

Objetivo deste espaço

Este espaço foi criado a partir de conversas com alunos que manifestaram o desejo de se comunicar mais amplamente com pessoas de outras áreas, pois consideram fragmentados os meios de comunicação e expressão sobre o campo da saúde a que se dedicam. Queriam algo mais que e-mail, Orkut, MSN e outros. O intuito desta iniciativa foi, portanto, proporcionar um espaço de discussão na área da Nutrição, relacionando essa ciência às outras áreas do conhecimento. Dispõe-se a publicar artigos, opiniões, comentários, relatos, experiências e propostas de discussão. Propõe-se, portanto, a ser mais um instrumento que proporcione aos interessados uma visão de integralidade do ser humano, objeto das ações em saúde.