terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As faces do cuidado - Editorial da revista RADIS


Revista RADIS discute as faces do cuidado

A integralidade na atenção à saúde não significa dar conta de tudo, mas de um todo”. Essa definição presente na matéria sobre o 10º Seminário Nacional do Projeto Integralidade, sintetiza o que orienta a ação de dezenas de gestores e profissionais da saúde e de outras áreas ouvidos nas diferentes reportagens desta edição. “Cuidado, assim como acolhimento e atenção, relaciona-se a sentimentos de solidariedade coletiva” lembra um convidado do seminário promovido pelo Lapis/UERJ. É preciso libertar o cuidado dos dispositivos “funcionalistas, produtivistas e fragmentários” ainda presentes nas políticas de saúde, acrescenta outra participante.

Os primeiros depoimentos desta edição vêm de médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, administradores, economistas e engenheiros brasileiros que integram a organização Médicos Sem fronteiras e levam ajuda profissional a qualquer lugar do planeta onde haja catástrofes naturais, fome, conflitos armados e epidemias. Na interação com cada criança, cada coletividade, eles se surpreendem com a capacidade humana de recuperar forças e recomeçar.

Esta “resiliência” é o que permite reencontrar ânimo e alegria, a partir do pouco que resta. Nela apostam os especialistas quando defendem o foco na saúde do usuário para lidar com o consumo de drogas, que movimenta indústria milionária de produção e comercialização ilegal e associada ao tráfico de armas e lavagem de dinheiro. Nossa matéria não traz apenas um debate polarizado entre proibição ou legalização. Transita na complexidade das gradações do controle de produção e comércio, nas implicações da criminalização e penalização do uso, no pragmatismo de políticas de redução de danos para usuários ou dependentes de drogas ilegais ou legais. Estudiosos da questão analisam aqui o quanto o modelo “proibicionista de controle” realimentou toda essa indústria, as limitações ao enfoque da saúde por conta do viés jurídico e penal dos tratados internacionais, as resistências às bem sucedidas estratégias de redução de danos e “consultórios de rua” no Brasil, a redução do consumo de drogas em países que resolveram enfrentar o problema de forma mais flexível, como Portugal.

Por fim, um tema que sempre dá muita satisfação abordar nesta revista: aleitamento materno e bancos de leite humano. A criação e articulação dos bancos e os excelentes resultados dessa política para a saúde das crianças e na redução da mortalidade infantil, contribuem para alcançar antecipadamente um dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pelas Nações Unidas, compromisso com o qual a Fiocruz está inteiramente envolvida. No relato de brasileiros e companheiros de países ibéricos, da América Latina e Caribe, a alegria por cada novo banco de leite inaugurado e articulado em rede entre os países – vários ainda sem nenhum – e o interesse em identificar as fragilidades a serem analisadas e superadas.

Rogério Lannes Rocha
Coordenador do Programa RADIS

Reproduzido da revista RADIS, n. 101, Janeiro de 2011
http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/101/edit.html

Foto obtida no site: http://tilz.tearfund.org/Portugues/PILARES/Respondendo+ao+VIH+HIV+e+%C3%A0+SIDA+com+maior+efic%C3%A1cia/PILARES+VIH+H19.htm

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